quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Eu sei, mas não devia! Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Para refletir...

                             Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender


1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.


2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.


3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.


4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.


5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.


6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.


7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".


8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".


9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.


10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.


Luis Fernando Verissímo.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Instruções para chorar (Julio Cortázar)

Deixando de lado os motivos, atenhamo-nos à maneira correta de chorar, entendendo por isto um pranto que não ingresse no escândalo, nem que insulte o sorriso com sua paralela e torpe semelhança. O pranto médio ou ordinário consiste em uma contração geral do rosto e um som espasmódico acompanhado de lágrimas e mucos, estes últimos ao final, pois o pranto se acaba no momento em que se assoa o nariz energicamente. Para chorar, dirija a imaginação para si mesmo, e se isto he resulta impossível por haver contraído o hábito de crer no mundo exterior, pense em um pato coberto de formigas ou nesses golfos do estreito de Magalhães em que não entra ninguém, nunca. Chegado o pranto, se tapará com decoro o rosto usando ambas as mãos com a palma voltada para dentro. As crianças chorarão com a manga da camisa contra a cara, e de preferência num canto do quarto. Duração média do pranto, três minutos.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O nariz (Crônica de Luís Fernando Verissímo)

Era um dentista, respeitadíssimo. Com seus quarenta e poucos anos, uma filha quase na faculdade. Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreendentes mas uma sólida reputação como profissional e cidadão. Um dia, apareceu em casa com um nariz postiço. Passado o susto, a mulher e a filha sorriram com fingida tolerância. Era um daqueles narizes de borracha com óculos de aros pretos, sombrancelhas e bigodes que fazem a pessoa ficar parecida com o Groucho Marx. Mas o nosso dentista não estava imitando o Groucho Marx. Sentou-se à mesa do almoço – sempre almoçava em casa – com a retidão costumeira, quieto e algo distraído. Mas com um nariz postiço.
- O que é isso? – perguntou a mulher depois da salada, sorrindo menos.
- Isso o quê?
- Esse nariz.
- Ah. Vi numa vitrina, entrei e comprei.
- Logo você, papai…
Depois do almoço, ele foi recostar-se no sofá da sala, como fazia todos os dias. A mulher impacientou-se.
- Tire esse negócio.
- Por quê?
- Brincadeira tem hora.
- Mas isto não é brincadeira.
Sesteou com o nariz de borracha para o alto. Depois de meia hora, levantou-se e dirigiu-se para a porta. A mulher o interpelou.
- Aonde é que você vai?
- Como, aonde é que eu vou? Vou voltar para o consultório.
- Mas com esse nariz?
- Eu não compreendo você – disse ele, olhando-a com censura através dos aros sem lentes. – Se fosse uma gravata nova você não diria nada. Só porque é um nariz…
- Pense nos vizinhos. Pense nos cliente.
Os clientes, realmente, não compreenderam o nariz de borracha. Deram risadas (“Logo o senhor, doutor…”) fizeram perguntas, mas terminaram a consulta intrigados e saíram do consultório com dúvidas.
- Ele enlouqueceu?
- Não sei – respondia a recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos. – Nunca vi ele assim. Naquela noite ele tomou seu chuveiro, como fazia sempre antes de dormir. Depois vestiu o pijama e o nariz postiço e foi se deitar.
- Você vai usar esse nariz na cama? – perguntou a mulher.
- Vou. Aliás, não vou mais tirar esse nariz.
- Mas, por quê?
- Por quê não?
Dormiu logo. A mulher passou metade da noite olhando para o nariz de borracha. De madrugada começou a chorar baixinho. Ele enlouquecera. Era isto. Tudo estava acabado. Uma carreira brilhante, uma reputação, um nome, uma família perfeita, tudo trocado por um nariz postiço.
- Papai…
- Sim, minha filha.
- Podemos conversar?
- Claro que podemos.
- É sobre esse nariz…
- O meu nariz outra vez? Mas vocês só pensam nisso?
- Papai, como é que nós não vamos pensar? De uma hora para outra um homem como você resolve andar de nariz postiço e não quer que ninguém note?
- O nariz é meu e vou continuar a usar.
- Mas, por que, papai? Você não se dá conta de que se transformou no palhaço do prédio? Eu não posso mais encarar os vizinhos, de vergonha. A mamãe não tem mais vida social.
- Não tem porque não quer…
- Como é que ela vai sair na rua com um homem de nariz postiço?
- Mas não sou “um homem”. Sou eu. O marido dela. O seu pai. Continuo o mesmo homem. Um nariz de borracha não faz nenhuma diferença.
- Se não faz nenhuma diferença, então por que usar?
- Se não faz diferença, porque não usar?
- Mas, mas…
- Minha filha…
- Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais meu pai!
A mulher e a filha saíram de casa. Ele perdeu todos os clientes. A recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos, pediu demissão. Não sabia o que esperar de um homem que usava nariz postiço. Evitava aproximar-se dele. Mandou o pedido de demissão pelo correio. Os amigos mais chegados, numa última tentativa de salvar sua reputação, o convenceram a consultar um psiquiatra.
- Você vai concordar – disse o psiquiatra, depois de concluir que não havia nada de errado com ele – que seu comportamento é um pouco estranho…
- Estranho é o comportamento dos outros! – disse ele. – Eu continuo o mesmo. Noventa e dois por cento de meu corpo continua o que era antes. Não mudei a maneira de vestir, nem de pensar, nem de me comportar, Continuo sendo um ótimo dentista, um bom marido, bom pai, contribuinte, sócio do Fluminense, tudo como era antes.
- Mas as pessoas repudiam todo o resto por causa deste nariz. Um simples nariz de borracha. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz?
- É… – disse o psiquiatra. – Talvez você tenha razão…
O que é que você acha, leitor? Ele tem razão? Seja como for, não se entregou. Continua a usar nariz postiço. Porque agora não é mais uma questão de nariz. Agora é uma questão de princípios.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Gramática sem decoreba Primeiro, as aulas eram só teoria. Depois, redação, leitura e nenhum conceito. Mas hoje se sabe como ensinar a estrutura da língua, de forma prática, para que os alunos escrevam melhor

Há anos se fala de uma concepção diferente do ensino de gramática, mas pouca coisa mudou.O professor sabe que decorar regras e ler a gramática (que deve ser usada só para consulta) não funcionam. Isso porque somente o estudo teórico não leva ninguém a falar, ler e escrever melhor.Como muitos educadores ainda não descobriram outra forma de abordar o tema, simplesmente o deixam de lado. O resultado é que o conteúdo praticamente desapareceu da sala de aula. 

Essa parte da língua foi relegada porque se acreditava que ela não dava competência para redigir bem. "Nos anos 1990, essa idéia começou a ser questionada", observa Kátia Lomba Brakling, uma das autoras dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa de 1ª a 4ª série e de 5ª a 8ª. "Tudo o que se vê nos programas de leitura mostrou que esse é mais um dos componentes a ser abordado quando se fala em reflexão sobre a língua." 

Existe uma enorme dificuldade em inovar a didática nesse campo. A constatação é de Artur Gomes de Morais, do Centro de Estudos em Educação e Linguagem da Universidade Federal de Pernambuco, que fez uma pesquisa sobre o tema em 2002. Ele pretendia verificar o que se realizava em classe com as séries iniciais do Ensino Fundamental em relação às novas orientações para o desenvolvimento do conteúdo. 

Foram entrevistadas 12 professoras de 3ª e 4ª série da rede pública municipal do Recife.Apesar de se esforçarem, Morais verificou que elas mantinham um pé na inovação e outro no convencional. O que chamam de gramática contextualizada, em geral, são aulas sobre nomenclatura e classificações, só que travestidas porque se baseiam em um texto.Ainda hoje estamos longe do desejável,mas vêm ocorrendo algumas inovações. Um caminho interessante é desvendar com a garotada a intenção do autor ao escolher determinada forma de escrever, como faz o professor Perón Rios, da Escola de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (leia o quadro). 

Ana Silvia Moço Aparício, da Universidade de Campinas, chegou a conclusões semelhantes às de Morais em estudo feito com dez educadoras de 5ª a 8ª série da rede pública de Penápolis (SP). "Elas diziam inovar nessa área, mas privilegiavam a leitura e a escrita e os conteúdos vistos continuavam sendo as categorias tradicionais, como substantivos, adjetivos e preposições, usando o texto como pretexto."



Aos professores...Um grande desafio!

Ensinar a gramática de acordo com as novas orientações é um grande nó para quem leciona Língua Portuguesa. "As aulas de gramática normativa, baseadas só em fatos da língua-padrão, não têm sentido para a garotada", admite Irene Tamaki Uematsu Harasawa, que leciona há 26 anos. Há sete, ao ingressar no Colégio Sidarta, em Cotia, na Grande São Paulo, ela mergulhou em um novo jeito de desenvolver o conteúdo. Para dar conta do desafio, faz muitos cursos. "Quando o estudante é estimulado a refletir sobre a língua, ele vai longe. Precisamos saber responder às questões."

Suas aulas para turmas de 6ª série se baseiam em diversos gêneros e na análise das escolhas lingüísticas feitas pelo autor para construir os sentidos desejados. Ao apresentar o poema O Homem; as Viagens, de Carlos Drummond de Andrade (publicado no livro As Impurezas do Branco) ela instigou a turma, primeiro, a pensar na pontuação. "Por que o autor utilizou ponto-e-vírgula no título?" Um garoto respondeu que o ponto-e-vírgula é uma pausa maior e daria a impressão de uma viagem que se alonga. Assim, os alunos analisaram as escolhas lingüísticas do autor e concluíram que são características da poesia.

Como analisa produções de gêneros variados, a turma de Irene percebe a grande variação de recursos. Para sistematizar os conceitos gramaticais, ela destaca algumas frases e, em vez de começar colocando as definição no quadro-negro - como fazia no passado -, dá diversos exemplos e provoca os jovens para que construam o conceito. "Na etapa final, confrontamos as definições deles com a do livro." Com esse processo, os estudantes refletem sobre as possibilidades de uso de determinadas palavras e realizam diferentes atividades para sistematizar o conhecimento.

NOVA ESCOLA ed. abril, 2007.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Crônica de Verissímo!!!!!

Lixo

Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612.
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muita comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- E, chorei bastante. Mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo..
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha.
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
- No seu lixo ou no meu?

Luís Ferrnando Verissímo

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Homem Nu
Fernando Sabino

Ao acordar, disse para a mulher:
— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa.  Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém.   Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão.  Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares...  Desta vez, era o homem da televisão!
Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
— Maria, por favor! Sou eu!
Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
— Ah, isso é que não!  — fez o homem nu, sobressaltado.
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
— Isso é que não — repetiu, furioso.
Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar.  Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador.  Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer?  Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.
Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:
— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso.  — Imagine que eu...
A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
— Valha-me Deus! O padeiro está nu!
E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:
— Tem um homem pelado aqui na porta!
Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
— É um tarado!
— Olha, que horror!
— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!
Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
Não era: era o cobrador da televisão.

Esta é uma das crônicas mais famosas do grande escritor mineiro Fernando Sabino. Extraída do livro de mesmo nome, Editora do Autor -
Rio de Janeiro, 1960, pág. 65.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Diálogo De Todo Dia - Carlos Drummond de Andrade

- Alô, quem fala?
- Ninguém. Quem fala é você que está perguntando quem fala.
- Mas eu preciso saber com quem estou falando.
- E eu preciso saber antes a quem estou respondendo.
- Assim não dá. Me faz o obséquio de dizer quem fala?
- Todo mundo fala, meu amigo, desde que não seja mudo.
- Isso eu sei, não precisava me dizer como novidade. Eu queria saber é quem está no aparelho.
- Ah, sim. No aparelho não está ninguém.
- Como não está, se você está me respondendo?
- Eu estou fora do aparelho. Dentro do aparelho não cabe ninguém.
- Engraçadinho. Então, quem está ao aparelho?
- Agora melhorou. Estou eu, para servi-lo.
- Não parece. Se fosse para me servir, já teria dito quem está falando.
- Bem, nós dois estamos falando. Eu de cá, você de lá. E um não conhece o outro.
- Se eu conhecesse não estava perguntando.
- Você é muito perguntador. Note que eu não lhe perguntei nada.
- Nem tinha que perguntar. Pois se fui eu que telefonei.
- Não perguntei nem vou perguntar. Não estou interessado em conhecer outras pessoas.
- Mas podia estar interessado pelo menos em responder a quem telefonou.
- Estou respondendo.
- Pela última vez, cavalheiro, e em nome de Deus: quem fala?
- Pela última vez, e em nome da segurança, por que eu sou obrigado a dar esta informação a um desconhecido?
- Bolas!
- Bolas, digo eu. Bolas e carambolas. Por acaso você não pode dizer com quem deseja falar, para eu lhe responder se essa pessoa está ou não está aqui, mora ou não mora neste endereço? Vamos, diga de uma vez por todas: com quem deseja falar?
Silêncio.
- Vamos, diga: com quem deseja falar?
- Desculpe, a confusão é tanta que eu nem sei mais. Esqueci. Tchau.

(Texto retirado do livro: Curso moderno de língua portuguesa, Douglas Tufano)
Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis
Rio de Janeiro, J. Olympio, 1985. p. 68.
 
 
 

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

"Sábio é o ser humano que tem coragem de ir diante do espelho da sua alma para reconhecer seus erros e fracassos e utilizá-los para plantar as mais belas sementes no terreno de sua inteligência".
                                                                                                                          Augusto Cury

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Jorge Amado!

               Nome:
             
Jorge Amado

Nascimento:
10/08/1912
Natural:
Itabuna - BA
Morte:
06/08/2001

Bibliografia
Individuais

Romances:

- O País do Carnaval, 1931

- Cacau, 1933

- Suor, 1934

- Jubiabá, 1935

- Mar Morto, 1936

- Capitães da Areia, 1936

- Terras do Sem Fim, 1943

- São Jorge dos Ilhéus, 1944

- Seara Vermelha, 1946

- Os Subterrâneos da Liberdade (3v), 1954 (v. 1:Os Ásperos Tempos; v. 2: Agonia da Noite; v. 3: A Luz no Túnel)

- Gabriela, Cravo e Canela: crônica de uma cidade do interior, 1958

- Os Pastores da Noite, 1964

- Dona Flor e Seus Dois Maridos: esotérica e comovente história vivida por Dona Flor, emérita professora de Arte Culinária, e seus dois maridos — o primeiro, Vadinho de apelido; de nome Teodoro Madureira e farmacêutico o segundo ou A espantosa batalha entre o espírito e a matéria, 1966

- Tenda dos Milagres, 1969

- Teresa Batista Cansada da Guerra, 1972

- Tieta do Agreste: pastora de cabras ou A volta da filha pródiga, melodramático folhetim em cinco sensacionais episódios e comovente epílogo: emoção e suspense!, 1977

- Farda Fardão Camisola de Dormir:fábula para acender uma esperança, 1979

- Tocaia Grande: a face obscura, 1984

- O Sumiço da Santa: uma história de feitiçaria, 1988

- A Descoberta da América pelos Turcos ou De como o árabe Jamil Bichara, desbravador de florestas, de visita à cidade de Itabuna, para dar abasto ao corpo, ali lhe ofereceram fortuna e casamento ou ainda Os esponsais de Adma, 1994

- O Compadre de Ogum, 1995
Novelas
- A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua, 1959

- A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua (publicada juntamente com Os Velhos Marinheiros ou A completa verdade sobre as discutidas aventuras do Comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão de longo curso, in Os velhos marinheiros, 1961

- Os Velhos Marinheiros ou A completa verdade sobre as discutidas aventuras do comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão de longo curso, 1976
Literatura Infanto-Juvenil:

- O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: uma história de amor, 1976

- A Bola e o Goleiro, 1984

- O Capeta Carybé, 1986
Poesia:

- A Estrada do Mar, 1938
Teatro:

- O Amor do Soldado, 1947 (ainda com o título O Amor de Castro Alves), 1958
Contos:

- Sentimentalismo, 1931

- O homem da mulher e a mulher do homem, 1931

- História do carnaval, 1945

- As mortes e o triunfo de Rosalinda, 1965

- Do recente milagre dos pássaros acontecido em terras de Alagoas, nas ribanceiras do rio São Francisco, 1979

- O episódio de Siroca, 1982

- De como o mulato Porciúncula descarregou o seu defunto, 1989
Relatos autobiográficos:

- O menino grapiúna, 1981

- Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei, 1992
Textos autobiográficos:

- ABC de Castro Alves, 1941

- O cavaleiro da esperança, 1945
Guia/Viagens:

- Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e de mistérios, 1945

- O mundo da paz (viagens), 1951

- Bahia Boa Terra Bahia, 1967

- Bahia, 1970

- Terra Mágica da Bahia, 1984.
Documento político/Oratória:

- Homens e coisas do Partido Comunista, 1946

- Discursos, 1993
Livro traduzido:

- Dona Bárbara (Doña Barbara), romance do venezuelano Rómulo Gallegos, 1934
Em parceria:

- Lenita (novela), com Edison Carneiro e Dias da Costa, 1929

- Descoberta do mundo (literatura infantil), com Matilde Garcia Rosa, 1933

- Brandão entre o mar e o amor, com José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz, 1942

- O mistério de MMM, com Viriato Corrêa, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, Rachel de Queiroz, José Condé, Guimarães Rosa,  Antônio Callado e Orígines Lessa, 1962

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Texto: LER DEVIA SER PROIBIDO!

Texto de Guiomar de Grammon

«A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verosimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incómodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos… A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna colectivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente humano.»


FONTE: http://www.trt05.gov.br/trt5new/areas/ddrh/LER_DEVIA_SER_PROIBIDO.doc
In: PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999. pp. 71-3.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Crônica do dia!!!!

O PRIMEIRO BEIJO

Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:

- Sim, já beijei antes uma mulher.

- Quem era ela? perguntou com dor.

Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.

O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.

E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.

E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.

A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.

E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.

Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.

O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.

De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.

Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.

E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.

Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.

Ele a havia beijado.

Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.

Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.

Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...

Ele se tornara homem.

CLARICE LISPECTOR.

(In "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998)
"A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tam pouco a sociedade muda."
                                                                                            PAULO FREIRE

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Para descontrair ...

Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender

1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.
 
Luís Fernando Veríssimo

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Hoje tem...CRÔNICA!

Como comportar-se no bonde (Machado de Assis)

Ocorreu -me compor uma certas regras para uso dos que freqüentam bonds. O desenvolvimento que tem sido entre nós esse meio de locomoção, essencialmente democrático! exige que ele não seja deixado ao puro capricho dos passageiros. Não posso dar aqui mais do que alguns extratos do meu trabalho; basta saber que tem nada menos de setenta artigos. Vão apenas dez.
Art. I - Dos encatarroados
Os encatarroados podem entrar nos bonds com a condição de não tossirem mais de três vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro.
Quando a tosse for tão teimosa, que não permita esta limitação, os encatarroados têm dois alvitres: -ou irem a pé, que é bom exercício, ou meterem-se na cama. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue.
Os encatarroados que estiverem nas extremidades dos bancos, devem escarrar para o lado da rua, em vez de o fazerem no próprio bond, salvo caso de aposta, preceito religioso ou maçônico, vocação, etc., etc.
Art. II - Da posição das pernas
As pernas devem trazer-se.de modo que não constranjam os passageiros do mesmo banco. Não se proíbem formalmente as pernas abertas, mas com a condição de pagar os outros lugares, e fazê-los ocupar por meninas pobres ou viúvas desvalidas, mediante uma pequena gratificação.
Art. III - Da leitura dos jornais
Cada vez que um passageiro abrir a folha que estiver lendo, terá o cuidado de não roçar as ventas dos vizinhos, nem levar-lhes os chapéus. Também não é bonito encostá-los no passageiro da frente.
Art. IV - Dos quebra-queixos
É permitido o uso dos quebra-queixos em duas circunstâncias: a primeira quando não for ninguém no bond, e a segunda ao descer.
Art. V - Dos amoladores
Toda a pessoa que sentir necessidade de contar os seus negócios íntimos, sem interesse para ninguém, deve primeiro indagar do passageiro escolhido para uma tal confidência, se ele é assaz cristão e resignado. No caso afirmativo, perguntar-se-lhe-á se prefere a narração ou uma descarga de pontapés. Sendo provável que ele prefira os pontapés, a pessoa deve imediatamente pespegá-los. No caso, aliás extraordinário e quase absurdo, de que o passageiro prefira a narração, o proponente deve fazê-lo minuciosamente, carregando muito nas circunstâncias mais triviais, repelindo os ditos, .pisando e repisando as coisas, de modo que o paciente jure aos seus deuses não cair em outra.
Art. VI - Dos perdigotos
Reserva-se o banco da frente para a emissão dos perdigotos, salvo nas ocasiões em que a chuva obriga a mudar a posição do banco. Também podem emitir-se na plataforma de trás, indo o passageiro ao pé do condutor, e a cara para a rua.
Art. VII - Das conversas
Quando duas pessoas, sentadas a distância; quiserem dizer alguma coisa em voz alta, terão cuidado de não gastar mais de quinze ou vinte palavras, e, em todo caso, sem alusões maliciosas, principalmente se houver senhoras.
Art. VIII - Das pessoas com morrinha
As pessoas com morrinha podem participar do bonds indiretamente: ficando na calçada, e vendo-os passar de um lado para outro. Será melhor que morem em rua por onde eles passem, porque então podem vê-lo mesmo da janela
Art. IX - Da passagem às senhoras
Quando alguma senhora entrar o passageiro da ponta deve levantar-se e dar passagem, não só porque é incômodo para ele ficar sentado, apertando as pernas como porque é uma grande má-criação.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Lista de livros, muito bons, escolha o seu e ótima leitura!!!!

ABC da Turma da Mônica - Maurício de Sousa e Cristina Porto
A Abelhinha e a Tartaruga - Nely A. Guernelli Nucci
Aborrecente, Não. Sou Adolescente - Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho/Rosângela
O Abraço da Meia-Noite - Maria da Glória Cardia de Castro
Acordar ou Morrer - Stella Carr
Açúcar Amargo - Luiz Puntel
O Advogado do Diabo - Andrew Neiderman
A Agenda de Carol - Inês Stanisiere
O Agente Ésse Creto no Deserto - Martin Oliver
O Agente Ésse Creto na Selva - Martin Oliver
Agora Estou Sozinha... - Pedro Bandeira
Água Luminosa - Domingos Pellegrini
Agüenta Firme - Ivan Jaf
Águia Sonhadora - Vanildo de Paiva
Aí, Né... E E Depois? - Wagner Costa
Álbum do Meu Cãozinho - Recordações e Melhores Momentos - Dora Busato Mendes e Sônia Busato Udiloff
A Aldeia Sagrada - Francisco Marins
O Alquimista - Paulo Coelho
Alucinado Som de Tuba - Frei Betto
Amarga Herança de Léo - Isabel Vieira
A Ameaça do Rio - Marcelo Carneiro da Cunha
Ameaça nas Trilhas do Tarô - Sersi Bardari
Um Amigo no Escuro - Márcia Kupstas
Um Amigo Inesquecível - Antônio Sampaio Dória
O Amigo do Rei - Ruth Rocha
Amigos Secretos - Ana Maria Machado
Um Amor de Detetive - Sarah Mason
Amor de Perdição - Camilo Castelo Branco
Amor de Verão - Álvaro Cardoso Gomes
Um Amor do Outro Mundo - Ganymedes José
Amor em Dose Dupla - R. L. Stine
Um Amor em Paris - Telma Guimarães Castro Andrade
Amor Impossível, Possível Amor - Pedro Bandeira & Carlos Queiroz Telles
Amor, Mágica e Magia - Elias José
O Amor Não Escolhe Sexo - Giselda Laporta Nicolelis
Ana Levada da Breca - Maria de Lourdes Krieger
A Ana Passou-se! - Maria Teresa Maia Gonzalez
Ana Terra - Érico Veríssimo
O Anel de Tutancâmon - Rogério Andrade Barbosa
Angelino - Alan Oliveira
Angus - O Primeiro Guerreiro - Orlando Paes Filho
Animais Fantásticos e Onde Habitam - Newt Scamander
Animorphs (a Coleção) - K. A. Applegate
O Aniversário da Ninoca - Lucy Cousins
O Aniversário de Nita - Lieve Baeten
Anjo da Morte - Pedro Bandeira
Anne Frank - Uma Biografia - Melissa Müller
O Apanhador no Campo de Centeio - J.D. Salinger
As Aparências Enganam - Thomas Brezina
A Aranha Arabela - Rosana Rios
Arrepios - O Fantasma da Casa ao Lado - R.L. Stine
Arrepios - O Feitiço do Relógio de Cuco - R.L. Stine
Arrepios - A Máscara Maldita - R.L. Stine
Arte Barroca Brasileira para Crianças - Marilyn Diggs Mange
Artemis Fowl - O Menino Prodígio do Crime - Eoin Colfer
Artemis Fowl e o Código Eterno - Eoin Colfer
A Árvore do Beto - Ruth Rocha
A Árvore que Fugiu do Quintal - Álvaro Ottoni de Menezes
Assassinato no Avião da Meia-Noite - Gaby Waters
Um Assassinato, um Mistério e um Casamento - Mark Twain
Assembléia na Mata - Monteiro Lobato
Atíria na Amazônia - Lúcia Machado de Almeida
Atrás de Todas As Portas - Contos - Stela Maris Rezende
Através do Espelho - Jostein Gaarder
Aventura Alucinante - Glauco Damas
Aventura da Escrita - História do Desenho que Virou Letra - Lia Zatz
A Aventura do Pudim de Natal - Agatha Christie
Aventura na Cidade Subterrânea - Maria Helena G. Pompeo Camargo 
Uma Aventura no Bosque - Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Aventura no Egito - Elisabeth Loibl
Uma Aventura no Egipto - Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Uma Aventura na Ilha Deserta - Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Aventura no Império do Sol - Sílvia Cintra Franco
Aventura em Mares Tempestuosos - Martin Oliver
Aventuras de Buscapé - Giselda Laporta Nicolelis
As Aventuras do Capitão Cueca - Dav Pilkey
As Aventuras de Floribella - Patrícia Moretzsohn e Jaqueline Vargas
Aventuras de Poti, o Marujinho - Moacir C. Lopes
As Aventuras do Super Bebê Fraldinha - Dav Pilkey
As Aventuras de Tom Sawyer - Mark Twain
O Avião Fantasma - Thomas Brezina
Azul e Lindo: Planeta Terra, Nossa Casa - Ruth Rocha e Otavio Roth
Balada do Primeiro Amor - Antônio Barreto
Balança Coração - Walcyr Carrasco
Bamboletras - Dilan Camargo
O Bando dos Quatro - João Aguiar
O Barco do Demônio - Thomas Brezina
Os Barcos de Papel - José Maviael Monteiro
Batalhão das Letras - Mário Quintana
As Batalhas do Castelo - Domingos Pellegrini
A Bela ou a Fera - Anna Flora
Bem do Seu Tamanho - Ana Maria Machado
A Bíblia de Mary Jones - Mig Holder
Bilboquê, que Bicho é Esse? - Sérgio Klein
Bisa Bia Bisa Bel - Ana Maria Machado
Boa-noite Dona Lua - Teresinha Cauhi de Oliveira
A Bolsa Amarela - Lygia Bojunga
Bom Dia Ticão - Teresa de Noronha
Brida - Paulo Coelho
Brim Azul: a História de uma Calça - Ganymedes José
Brincadeira Mortal - Pedro Bandeira
O Brinquedo Misterioso- Luiz Galdino
As Bruxas... e seus Lobos - George Patrão
Burrinho Amarrado - Pedro Bandeira
A Cabana do Pai Tomás - Harriet B. Stowe
Cabo Verde, Viagem pela História das Ilhas - Germano Almeida
O Caçador de Palavras - Walcyr Carrasco
O Cachorrinho Samba - Maria José Dupré
O Cachorrinho Samba na Fazenda - Maria José Dupré
O Cachorrinho Samba na Floresta - Maria José Dupré
O Cachorro que Sabia Dar Risada - Heloísa Prieto
Um Cadáver Ouve Rádio - Marcos Rey
A Cadeira do Dentista & Outras Crônicas - Carlos Eduardo Novaes
O Caderno de Perguntas de Rebeca - Telma Guimarães Castro Andrade
Café Preto - Agatha Christie
Caio, o Colecionador - Anna Flora
Caio Zip em: Enigmat, que Bicho é Esse? - Regina Gonçalves
A Caixa de Pandora - Adriana Bernardino
Cala o Bico, Passarinho - Izabel Telles
Uma Canção de Natal - Charles Dickens
Caninos Brancos - Jack London
Capitães da Areia - Jorge Amado
Capitão Cueca e o Ataque das Privadas Falantes - Dav Pilkey
Um Capricho dos Deuses - Sidney Sheldon
Cara! Meu Bisavô Virou um Gato! - Dan Greenburg
Cara ou Coroa? - Fernando Sabino
A Carta, a Bruxa e o Anel - John Bellairs
Casa da Mãe Joana - Reinaldo Pimenta
A Casa das Quatro Luas - Josué Guimarães
A Casa de Hans Kunst - Luana Von Linsingen
Casa do Pesadelo - Atração Fatal - Diane Hoh
Casa do Pesadelo - Bela Gentileza - Diane Hoh
Casa do Pesadelo - Desejos Macabros - Diane Hoh
Casa do Pesadelo - O Grito Silencioso - Diane Hoh
A Casa Mal-Assombrada - Chuck Murphy e Russell Spina Jr.
O Casamento da Ararinha-Azul - Ângelo Machado
O Casamento de Carla e Cláudio - Yana Tassis
O Casamento da Emília - Monteiro Lobato
O Casebre do Fantasma - Luci Guimarães Watanabe
A Casinha da Ninoca - Lucy Cousins
O Caso dos Dez Negrinhos - Agatha Christie
O Caso da Estranha Fotografia - Stella Carr
O Caso do Hotel Bertram - Agatha Christie
O Castelo da Intriga - Paul Stewart
Catapora Não se Come, Clara Rosa. - Paula Danziger
Cavalgando o Arco-Íris - Pedro Bandeira
O Cavalo Amarelo - Agatha Christie
Cem Dias Entre Céu e Mar - Amyr Klink
Cem Magias para Guardar Segredos - Andre João Rypl
Cem Magias para Ter um Supergrupo - Disney Enterprises
A Centopéia que Sonhava - Herbert de Souza
O Chamado do Meu Povo - Odette de Barros Mott
Chapeuzinho Amarelo - Chico Buarque
Chapeuzinho Vermelho e o Arco-Íris - Uma História sem Lobo - Márcia Muraco Schobesberger
Chapeuzinho Vermelho e o Lobo-Guará - Ângelo Machado
A Charada do Sol e da Chuva - Luiz Galdino
Os Chatos dos Meus Vizinhos - Creina Mansfield
A Chave do Tamanho - Monteiro Lobato
Chocolóvski - O Aniversário - Angela Sommer-Bodenburg
O Cidadão de Papel - Gilberto Dimenstein
A Cidade que Encolhe - Elisabeth Maggio
A Cidade das Feras - Isabel Allende
A Cidade Sinistra dos Corvos - Lemony Snicket
A Cidade Submersa - Martin Oliver
Cinderela - M. Company e R. Capdevila
Circo dos Horrores - Darren Shan
Clara Manhã de Quinta À Noite - Audrey Wood
Clara Rosa Quer Uma Chance - Paula Danziger
Clara Rosa Vê Vermelho - Paula Danziger
Cleópatra e sua Víbora - Margaret Simpson
Clube das Amigas - Não Posso Viver Sem o Meu Telemóvel - Kathryn Lamb
Clube do Beijo - Marcia Kupstas
O Clube dos Contrários - Sílvia Zatz
O Clube do Terror - R.L. Stine
Coisas que Toda Garota Deve Saber - Samantha Rugen
Coisas que Toda Garota Deve Saber sobre Garotos - Kara May
Coisas que Todo Garoto Deve Saber - Antônio Carlos Vilela
Coisas que Todo Garoto Deve Saber sobre Garotas - Peter Corey
Os Colegas - Lygia Bojunga
Coloquei Você no Centro do Mundo - Andrea Hensgen
Com a Ponta dos Dedos e os Olhos do Coração - Leila Rentroia Iannone
Começar Tudo de Novo - Fanny Abramovich
Comédias para se Ler na Escola - Luís Fernando Veríssimo
Como Atirar Vacas no Precipício - Alzira Castilho e Sirio Braz
A Comunidade - Heitor Simões
O Conde Futreson - João Carlos Marinho
O Conde de Monte Cristo - Alexandre Dumas
Conquista Esporte Clube - Telma Guimarães Castro Andrade
Conte-me Seus Sonhos - Sidney Sheldon
Contos da Rua Brocá - Pierre Gripari
Contos de Grimm - Jacob e Wilhem Grimm
Contos Inacabados - J.R.R.Tolkien
Contos e Lendas da Mitologia Grega - Claude Pouzadoux
Coração de Boneca - Ilka Brunhilde Laurito
Coração Dividido - Janet Quin Harkin
O Coração Roubado e Outras Crônicas - Marcos Rey
A Coragem de Mudar - Júlio Emílio Braz
Coraline - Neil Gaiman
O Corcunda de Notre-Dame - Victor Hugo
Corda Bamba - Lygia Bojunga Nunes
A Cor de  Cada Um - Carlos Drummond de Andrade
As Cores de Laurinha - Pedro Bandeira e Walter Ono
A Corrente da Vida - Walcyr Carrasco
Corrida pela Herança - Sidney Sheldon
Crepúsculo - Stephenie Meyer
Crescer é uma Aventura - Rosana Bond
Crescer é Perigoso - Márcia Kupstas
Creuza em Crise: Quatro Histórias de uma Bruxa Atrapalhada - Silvana Tavano
Os Crimes do Olho-de-Boi - Marcos Rey
Os Criminosos Vieram para o Chá - Stella Carr
As Crônicas de Nárnia - C.S. Lewis
Cuidado: Garoto Apaixonado - Toni Brandão
Cyrano de Bergerac - Edmond Rostand
Danico Pé-de-Vento - Isabel Vieira
De Boca Bem Fechada - Liliana Iacocca
Deixados Para Trás - Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins
Deltora - a Série - Emily Rodda
De Menina para Menina - Inês Stanisiere
Depois Daquela Viagem - Valéria Piassa Polizzi
Depois, O Silêncio - Ganymedes José
De Repente Dá Certo - Ruth Rocha
O Desafio do Pantanal - Sílvia Cintra Franco
Descanse em Paz, Meu Amor - Pedro Bandeira
Desce do Muro Moleca - Marcus Vinicius de Arruda Camargo
Desenhos de Guerra e de Amor - Flávio de Souza
Desventuras em Série: A Coleção - Lemony Snicket
Desventuras em Série: A Cidade Sinistra dos Corvos - Lemony Snicket
Desventuras em Série: O Elevador Ersatz - Lemony Snicket
Desventuras em Série: O Escorregador de Gelo - Lemony Snicket
Desventuras em Série: O Espetáculo Carnívoro - Lemony Snicket
Desventuras em Série: O Hospital Hostil - Lemony Snicket
Desventuras em Série: Inferno no Colégio Interno - Lemony Snicket
Desventuras em Série: O Lago das Sanguessugas - Lemony Snicket
Desventuras em Série: Mau Começo - Lemony Snicket
Desventuras em Série: A Sala dos Répteis - Lemony Snicket
Detective Maravilhas - Maria do Rosário Pedreira
Os Detetives do Farol em Contrabandistas no Barco e Um Roubo Quase Perfeito - Klaus Bliesener
Os Detetives do Farol em Velhas Peças, Velhas Truques - Klaus Bliesener
Detonando o Som - Fanny Abramovich
Deu a Louca no Tempo - Marcelo Duarte
Deus me Livre! - Luiz Puntel
Deuses Americanos - Neil Gaiman
O Dia do Curinga - Jostein Gaarder
Um Dia "Daqueles" - Bradley Trevor Greive
O Diabo dos Números - Hans Magnus Enzensberger
Diálogo Sobre a Juventude - Daisaku Ikeda
O Diário da Misteriosa Menina - Liliana Iacocca
Diário da Princesa - Meg Cabot
O Diário de Anne Frank - Anne Frank
O Diário de Bridget Jones - Helen Fielding
Diário de Débora - Liliane Prata
O Diário de Fabiana - A Vida é Pra Valer - Antonio Carlos Vilela
Diário de um Gato Assassino - Anne Fine
O Diário de Lúcia Helena - Álvaro Cardoso Gomes
O Diário (Nem Sempre) Secreto de Pedro - Telma Guimarães Castro Andrade
O Diário de Susie - Aidan MacFarlane e Ann McPherson
Diário de Tati - Heloísa Périssé
O Diário de Zlata - Zlata Filipovic
O Dicionário de Serafina - Cristina Porto
Difícil Decisão - Juciara Rodrigues
Dinheiro do céu - Marcos Rey
Do Outro Mundo - Ana Maria Machado
Doenças Mortais - Nick Arnold
Dois Garotos da Pesada - Manoel Cardoso
Dom Quixote das Crianças - Monteiro Lobato
Domadores, Mágicos e Ladrões - Roberto Freire
Dona Pedra, Seu Papel e Dona Tesoura - Maria da Conceição Torres Garcia
Dormindo Fora! - Rowan Mcauley
12 Fábulas de Esopo - Hans Gärtner e Lisbeth Zwerger
Doze Horas de Terror - Marcos Rey
Dragão de Menino - Pedro Pessoa
Dr. Cão - Babette Cole
Droga de Americana! - Pedro Bandeira
A Droga do Amor - Pedro Bandeira
Dureza - Luís Augusto Gouveia

A Droga da Obediência - Pedro Bandeira
200 Crônicas Escolhidas - Rubem Braga
...E A Conversa Continua! - Luís Augusto Gouveia
E Agora? - Odette de Barros Mott
E-mãe, a Internet me Aprontou Uma! - Tânia Alexandre Martinelli
E a Terra Parou Novamente - O Caso dos ETs de Varginha - Jorge Fernando dos Santos
É Preciso Lutar - Márcia Kupstas
É Preciso Ser Diferente! - Fernando Vaz
É Proibido Miar - Pedro Bandeira
Ei! Tem Alguém Aí? - Jostein Gaarder
Eldest - Christopher Paolini
Um Elefante em minha Sopa - Fernando Lalana
Os Elefantes Não Esquecem - Agatha Christie
Um E-mail em Vermelho - Eliana Martins & Manuel Filho
Em Busca do Templo Perdido - Susannah Leigh
Em Busca dos Números Perdidos - Michael Thomson
O Embrulho do Getúlio - Dilan Camargo
Emil e os Detetives - Erich Kaestner
O Emprego da Lua - Victor Louis Stutz
O Enigma do Autódromo de Interlagos - Stella Carr
O Enigma das Letras Verdes - Stella Carr
Enigma na Televisão - Marcos Rey
Ensaio de um Beijo - Elizabeth Bernard
Entre o Amor e a Guerra - Zíbia Gasparetto
Eragon - Christopher Paolini
Éramos Seis - Maria José Dupré
O Escaravelho do Diabo - Lúcia Machado de Almeida
Uma Escola Assim eu Quero pra Mim - Elias José
Escola do Terror - Férias com os Vampiros - Tom B. Stone
Escola do Terror - Grite, Time! - Tom B. Stone
Escola do Terror - Não Coma da Carne Misteriosa! - Tom B. Stone
Escolinha de Horror - Jackie Niebisch
A Escolinha do Mar - Ruth Rocha
O Escorpião e a Rã - Rubem Alves
A Escrava Isaura - Bernardo Guimarães
Espelho Maldito - Giselda Laporta Nicolelis
A Espiã - Louise Fitzhugh
O Espião Invisível - Mark Fowler
Esses Pais São um Problema - Thomas Brezina
O Estrangulador - Sidney Sheldon
Os Estranhos - Stephen King
A Estrela de Cada Um - Rose Sordi
Estrelas Tortas - Walcyr Carrasco
O Estudante - Adelaide Carraro
O Estudante II - Adelaide Carraro
O Estudante III - Adelaide Carraro
Eu, Christiane F. - Kai Hermann e Horst Rieck
Eu, Detetive - O Enigma do Quadro Roubado - Stella Carr & Lais Carr Ribeiro
Eu, Pescador de Mim - Wagner Costa
Fabíola Foi Ao Vento - Ricardo Benevides
O Fabricante de Terremotos - Wilson Rocha
Fábulas - Monteiro Lobato
Fábulas de Esopo - Jean de La Fontaine
Fada Fofa e os 7 Anjinhos - Sylvia Orthof
A Fada que Tinha Idéias - Fernanda Lopes de Almeida
Uma Fada Veio me Visitar - Thalita Rebouças
Falando pelos Cotovelos - Lúcia Pimentel Góes
Fala Sério, Professor! - Thalita Rebouças
Um Fantasma Chamado Wanda - Dan Greenburg
O Fantasma da Meia-Noite - Sidney Sheldon
O Fantasma da Torre - Giselda Laporta Nicolelis
O Fantasma do Espelho - Karen Dolby
O Fantasma de Tio William - Rubens F. Lucchetti
O Fantasma no Espelho - John Bellairs
O Fantasma no Porão - Elias José
O Fantasma do Shopping Ópera - Marcia Kupstas
Fantasmas da Rua do Medo - O Ataque dos Macacos - R.L.Stine
A Fantástica Fábrica de Chocolate - Roald Dahl
O Fantástico Mistério de Feiurinha - Pedro Bandeira
Faz-de-Conta - Mirna Pinsky
O Feijão e o Sonho - Orígenes Lessa
O Feitiço do Dragão - Ann Downer
Felicidade - Roseana Murray
Felicidade Não Tem Cor - Júlio Emílio Braz
Feliz Ano Velho - Marcelo Rubens Paiva
As Férias - Condessa de Segur
Férias no Castelo Assombrado - Elisabeth Loibl
Férias Mágicas - Maria Victoria Gasparini
Férias em Xangri-lá - Teresa Noronha
Festa de Criança - Luís Fernando Veríssimo
Filha de Feiticeira - Celia Rees
Fim de Semana Alucinante - R.L. Stine
O Físico - A Epopéia de um Médico Medieval - Noah Gordon
A Floresta e o Estrangeiro - Alberto Martins
A Formiguinha e a Neve - João de Barro
A Fórmula da Esperança - Roberto Freire
Fronteiras do Universo - Philip Pullman
Fugindo de Casa - Suzana Dias Beck
A Galera Vai... - Dr. Brad Pitbull
Garra de Campeão - Marcos Rey
A Garrafinha de Turbulão - Marie-Sabine Roger
Um Gato Chamado Gatinho - Ferreira Gullar
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá - Jorge Amado
O Gato que Perdeu a Cor - Genevieve Noel
Geloso, o Gelinho - Izomar Camargo Guilherme
A Gema do Ovo da Ema - Sylvia Orthof
O Gênio do Crime - João Carlos Marinho
Gente de Estimação - Pedro Bandeira
Gincana da Morte - Marcos Rey
A Girafa, o Pelicano e Eu - Roald Dahl
Um Girassol na Janela - Ganymedes José
Um Gnomo no Meu Jardim - Márcia Glória Rodriguez
Go Girl! - Irmãs pra Valer - Thalia Kalkipsakis
Gol de Placa - Edith Modesto
O Golpe do Aniversariante e Outras Crônicas - Walcyr Carrasco
A Gôndola Prateada - M. B. Tamassia
Um Gosto de Quero Mais - Sonia Salerno Forjaz
A Gramática Lê o Texto - Florianete Guimarães e Margaret Guimarães
O Grande Amor do Pequeno Vampiro - Ângela Sommer-Bodenburg
O Grande Desafio - Pedro Bandeira
O Grande Mentecapto - Fernando Sabino
As Grandes Esperanças - Charles Dickens
Grimble - Clement Freud
O Guardador de Palavras - Marina Pechlivanis
O Guardião das Florestas - Maria Cristina Furtado
O Guardião da Meia-Noite - Rubens Saraceni
A Guerra e a Paz - Brigitte Labbé e Michel Puech
Guerra no Rio - Ganymedes José
O Guia do Mochileiro das Galáxias - Douglas Adams
Harry Potter e a Câmara Secreta - J. K. Rowling
Harry Potter e o Cálice de Fogo - J. K. Rowling
Harry Potter e o Enigma do Príncipe - J. K. Rowling
Harry Potter e a Ordem da Fênix - J. K. Rowling
Harry Potter e a Pedra Filosofal - J. K. Rowling
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban - J. K. Rowling
Heidi e Clara no Chalé - Johanna Spyri
Heidi na Fazenda - Johanna Spyri
Heidi nas Montanhas - Johanna Spyri
Heidi na Fazenda - Johanna Spyri
A Herdeira - Sidney Sheldon
História Dentro de uma Garrafa - Alexandre Honrado
A História do Doutor Dolittle - Hugh Lofting
A História Final - Álvaro Cardoso Gomes
Uma História de Natal - Charles Dickens
A História Sem Fim - Michael Ende
Histórias para Aquecer o Coração das Mães - Jack Canfield
Histórias Para Aquecer o Coração dos Adolescentes - Jack Canfield, Mark Victor Hansen, Kimberly Kimberger
Histórias de Avô e Avó - Arthur Nestrovski
Histórias de Bruxa Boa - Lya Luft
Histórias Diversas - Monteiro Lobato
Histórias de Tia Nastácia - Monteiro Lobato
Histórias da Turma - Marcia Kupstas
O Homem Bicentenário - Isaac Asimov
O Homem que Amava Caixas - Stephen Michael King
A Hora da Decisão - Raul Drewnick
A Hora da Verdade - Pedro Bandeira
A Hora do Amor - Álvaro Cardoso Gomes
O Hóspede Suspeito - Friedrich Scheck
Uma Idéia Cem Por Cento: Porcentagem - Martins Rodrigues Teixeira
Uma Idéia Toda Azul - Marina Colasanti
A Ilha do Tesouro - Robert Louis Stevenson
A Ilha Perdida - Maria José Dupré
Ilíada - Homero
Ímpar - Marcelo Carneiro da Cunha
O Imperador da Ursa Maior - Carlos Eduardo Novaes
A Incrível Expedição aos Dinossauros - Karen Dolby
O Incrível Livro de Hipnotismo de Molly Moon - Georgia Byng
Índio Vivo - Julieta de Godoi Ladeira
A Infância Acabou - Renato Tapajós
Infância Roubada - Telma Guimarães e Júlio Emílio Braz
Um Inimigo em Cada Esquina - Raul Drewnick
Os Invencíveis - Telma Guimarães Castro Andrade
A Ira dos Anjos - Sidney Sheldon
A Irmandade das Calças Viajantes - Ann Brashares
Isaac Newton e sua Maçã - Kjartan Poskitt
Isso Ninguém me Tira - Ana Maria Machado
Já Começou pra Você? - Ruth Thompson
Janela Mágica - Cecília Meireles
O Jardim da Meia-Noite - Philippa Pearce
O Jardim Secreto - Francis Hodgson Burnett
Jesus é Nosso Amigo - Maurício de Souza
O Jogo do Camaleão - Marçal Aquino
Juízo Final - Sidney Sheldon